sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Pra falar a verdade, as vezes minto...

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto eu finjo que sou quem eu queria ser
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto eu finjo, enquanto eu fujo...

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas crio asas e viro querubim
Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão, escuridão que te faz dormir

Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás se voltar atrás assim como eu
Busquei quem sou, você pra mim mostrou que eu não sou sozinho nesse mundo...

(O Teatro Mágico, Cuida de Mim)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A criança que eu fui...


Um dia desses, um amigo citou uma frase mais ou menos assim: "Será que a criança que eu fui teria orgulho do adulto que eu me tornei?"
Hoje, dia das crianças, acordei com este pensamento mais uma vez. Será?!
E para pensar também tentei lembrar de quem foi a criança que eu fui? Me lembro sempre dos meus pais sempre dizendo que fui um menino comportado, que nunca quebrei um brinquedo! Era adorado pelas professoras (talvez um pouquinho CDF).
Me lembro de uma criatividade muito introspectiva e uma imaginação fértil.
Enfim, pensar na criança que eu fui nem foi tão difícil assim.
Difícil mesmo é pensar no 'adulto que me tornei'! Um misto de medo em me descobrir e uma vontade absurda de esconder de mim mesmo as coisas que nem eu - com a idade que tenho hoje - conseguiria me orgulhar, quiçá uma criança (e mesmo que a criança seja eu).
A criança que eu fui talvez não consiga se orgulhar do adulto que me tornei, talvez ela nem possa me encontrar para poder mensurar orgulho ou vergonha. Às vezes acho até que - em algum momento - essa criança e esse adulto se perderam no caminho.
Um dia - tenho certeza - eles vão se encontrar! E que seja um encontro doce!
Me lembro que com uns 10 ou 11 anos, tive um livro na escola em que a primeira página tinha fotos de várias civilizações e personalidades históricas (índios, negros, um desenho de Tiradentes, etc) e no final da página estava escrito "Lute a vida inteira para que um dia a sua vida faça parte de um livro de história".
Sempre me lembro deste livro e sempre fico pensando se aquela frase teve o mesmo impacto para todas aquelas crianças que estudavam comigo. Para mim fez!
Pode parecer muito banal e talvez (lendo agora) possa até parecer cafona, mas talvez tenha sido esse o motim que encontrei para trilhar o meu caminho. Lutar uma vida inteira para ser alguém.
O que fica hoje é a dúvida sobre quem é ou será esse 'alguém'... Respondendo e encontrando respostas vou seguindo...


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Há um tempo...




"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Regular afeto?!

"Eu saio para rua e quero ter todos os sorrisos que eu não pude dar e os que eu tenho para dar, eu dou. Vou ficar regulando afeto? Regulando carinho? Me regulando para o outro? A vida é tão curta e a gente fica se dando em pedaços. Eu só consigo estar inteiro o tempo todo com quem estiver comigo. E estar inteiro é se dar inteiro. Eu cedo a minha roupa, meu alimento, meu abrigo porque nada disso me pertence de fato. Está tudo ai para dividir. Partilhar é melhor que acumular. Eu não sei acumular afeto, ele vaza."



Luis Antônio - Gabriela é, sem sombra de dúvidas, a melhor coisa que já vi num palco. Sempre que digo à alguém que chorei por alguma coisa a primeira fala que ouço é "NOVIDADE"!

Seria, então, redundante dizer o quanto este texto e esta montagem me emocionam. Mas talvez o choro e a emoção sejam diferentes.

É diferente porque poucas coisas vistas em telas ou palcos me emocionaram como esta peça. É como se Nelson Baskerville e todo o elenco da Cia. Mungunzá tivesse conseguido bradar um grito tão íntimo, tão intenso e tão forte à mim.

Me emociono pela sensibilidade - do autor, do argumento e do elenco. 

Todas as vezes que assisti a sensação foi a mesma: uma vontade imensa de que todo mundo pudesse assistir. Talvez essa vontade exista por uma outra coisa velada e íntima de achar que se todos assistissem uma parte de mim estaria explicada de uma maneira mais 'fácil' (pelo menos para mim). 

E espero que ninguém nunca seja hipócrita de achar que essa emoção toda se dá apenas pelo fato da peça falar de homossexualidade. Bem longe disso. A peça fala de gente. Com verdade, intensidade e principalmente muito tato. 

Sou eternamente grato por ter tido a oportunidade de conhecer este trabalho. E que bom que a Gabriela não conseguiu acumular o seu afeto. E não conseguindo, que bom que outras pessoas puderam fazer por ela e transbordar esse afeto fora do normal.

"Eu não sei acumular afeto, ele vaza. Vazou na casa, nas ruas, nos bares.A maneira que eu soube demonstrar o meu carinho dentro da minha confusão, eu demonstrei. Trepar é meu carinho. É como um beijo, um abraço, é como ceder um cobertor. Por que eu vou fazer pela metade? Ceder um cobertor ao mendigo e não a companhia para dormir? Eu não entendo.Eu sou um brinde que vai com o cobertor. Eu sou um brinde que veio junto com a vida para todo mundo. Aqui todos nós somos brindes."

Referências: Luis Antônio - Gabriela
Foto: Marcos Anthero
Agradecimento: Fernando Souza

domingo, 15 de abril de 2012

Nariz de Palhaço


Por favor,
Homem revoltado
Homem ludibriado
Homem usurpado
Homem ignorante
Homem covarde,
Deixa este Nariz aí!
Tira este Nariz do rosto!
Este nariz é do Palhaço.
Faz parte da alma dele.
Não é utensílio dos fracos.
Respeito-o.
Quer protestar?
Vá à luta!
Mostra a tua cara, não a do Palhaço!
quer fazer greve?
Mostra a tua cara, não a do Palhaço!
Quer reclamar do governo?
Quer reclamar dos bancos?
Quer fazer uma revolução?
Quer mudar o mundo?
Mostra a tua cara, não a do Palhaço.
E se conseguires alguma transformação,
Aí sim, o Palhaço te concederá o seu Nariz.
Mas o Palhaço não é esta frouxidão que tu és.
Não te confundas com o nobre Palhaço.
Há muito ele é o condutor da alegria,
da sensibilidade, da liberdade, da emoção,
da docilidade e da verdade também!
E não se ocultas como tu.
Há muito habita o universo mágico da pureza
E por isso é tão sentido pelas crianças.
O Palhaço não é aquele lado teu que foge de medo,
Que não enfrenta a luta e nem se expõe.
Tira esse Nariz, Homem!
E mostra a tua própria cara.
Pode ser que teus problemas comecem a ser resolvidos.
E quem sabe um Palhaço sorrirá para ti?
Se fores um lutador de verdade.


Paulo Roberto Drummond

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ser interessante ou ser interesseiro?!


Facilmente rotulamos pessoas como interesseiras. Abrangemos dentro de nossos conceitos duas, três ou quatro atitudes que nos fazem crer que aquele ser faz tudo de cabeça pensada e querendo algo em troca. Ao mesmo tempo, lutamos – diariamente – para nos tornarmos pessoas interessantes e estarmos junto à estas.

Oras?! Se lutamos para ser interessantes não seria meio óbvio trazermos para perto de nós pessoas que sejam interesseiras?

Sobre ser interesseiro ainda há uma outra questão: não seria até vital que tivéssemos uma lista de interesses nesta vida? E que esta lista nos servisse, inclusive, de válvula propulsora de nossas ações? O que me faz levantar todos os dias? O que me faz aturar o chefe? O que me faz ouvir o que não gosto de ouvir? INTERESSE! Interesse num monte de coisas!

Há tempos venho pensando no quanto nos vitimizamos com as diversas situações que a vida nos oferece. Parece que é sempre mais fácil assumir a posição de réu, mesmo declarando aos quatro cantos o quanto abominamos essa postura!

O que acho, portanto, é que se alguém é rodeado por pessoas ‘interesseiras’ é porque abriu campo para isso! Talvez tenha tentado ser interessante em demasia!

Sendo interesseiro e sendo interessante eu vou vivendo. Assumidamente! Sim, não me acanho mais uma vez em assumir que sou interesseiro! O que me resta, no entanto, é descobrir dentro de mim o quanto isso é saudável e o quanto pode me prejudicar!

Hoje, mais do que pensar em ter pessoas interesseiras por perto ou não, busco estar junto de pessoas que me completem dentro de meus interesses.

Pra cada Havaiana tem um pé e pra cada macaco há um galho!

terça-feira, 3 de abril de 2012

O juízo do julgamento!


Quantas vezes ouvimos 'Lá vem você me julgando de novo...'? E sempre que ouço isso fico me culpando por ter tirado conclusões precipitadas sobre qualquer tipo de coisa!


E por que julgar passou a ser item pecaminoso na lista das coisas feitas pelas pessoas boas? Em que momento julgar passou a ser pecado?

O julgamento está diretamente relacionado à verdade. Julgo por aquilo que acreditei ser a verdade, a verdade que criei dentro de conceitos, preceitos e valores, certo? Certo!

Então, tendo ciência de que vou procurar sempre as melhores verdades (ou aquelas que me tornam uma pessoa melhor) será que é assim tão mau explorar essa veracidade?

A verdade do EU acaba justamente onde começa a verdade do OUTRO, e vice-versa (por mais ordinário, triste ou contraditório que possa soar esse 'vice-versa').

Oras, a gente julga o tempo todo! Nosso próprio nascimento foi uma grande vítima de um julgamento: nossos pais julgaram (ou não, em vários casos!) que era a hora de aumentar a família e mandar mais um 'bacuri' pro mundo afora. Julgaram se era a hora, se tinham condições, se daria certo ou errado, e enfim: se você está lendo este texto é certeza que seus pais julgaram um sim nesta hora e jogaram fora a ideia do chá de buchinha ou até mesmo do Citotec (dê graças à Deus, amigo!)

Por muito tempo foram os seus criadores (os pais ou não) que foram julgando aquilo que era correto ou errado, e - direta ou indiretamente - colocando pequenas fagulhas no seu vademecum jurídico mental! Pronto! Você se tornou gente e já era hora de começar a consultar os seus livrinhos cerebrais, pôr este juiz onipotente pra dar as marteladas e passar a também julgar!

E queira ou não queria, amigão, você está o tempo todo julgando, desde a hora que acorda! Ao decidir se vai sair de sapato ou tênis, de calça ou bermuda, sair com Pedro ou com o João você julgou! Julgou o que era melhor para si, para o mundo e para o convívio entre ambos.

Julgou a sua verdade!

Lá no comecinho deste post relacionei o julgamento com a VERDADE, lembra? Pois é! Julgo por que sou de verdade, tenho verdade e quero verdades!

É certeza que os julgamentos serão corretos, errados, meio certos e meio errôneos! O que me basta, neste momento, é estar o tempo todo de cabeça aberta para julgar e poder voltar atrás neste julgamento. Perdoar, me perdoar e acreditar!

Honoré de Balzac, aquele das balzaquianas, sabe? Então, ele dizia que "não devemos julgar as pessoas que amamos." para ele "o amor que não é cego, não é amor!" Por sorte o cabra se foi no meio do século XIX e não precisamos mais acreditar nessa marmelada, né?

O amor que tenho dentro de mim (e que coloco pra fora) não é cego, é são!