segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Regular afeto?!

"Eu saio para rua e quero ter todos os sorrisos que eu não pude dar e os que eu tenho para dar, eu dou. Vou ficar regulando afeto? Regulando carinho? Me regulando para o outro? A vida é tão curta e a gente fica se dando em pedaços. Eu só consigo estar inteiro o tempo todo com quem estiver comigo. E estar inteiro é se dar inteiro. Eu cedo a minha roupa, meu alimento, meu abrigo porque nada disso me pertence de fato. Está tudo ai para dividir. Partilhar é melhor que acumular. Eu não sei acumular afeto, ele vaza."



Luis Antônio - Gabriela é, sem sombra de dúvidas, a melhor coisa que já vi num palco. Sempre que digo à alguém que chorei por alguma coisa a primeira fala que ouço é "NOVIDADE"!

Seria, então, redundante dizer o quanto este texto e esta montagem me emocionam. Mas talvez o choro e a emoção sejam diferentes.

É diferente porque poucas coisas vistas em telas ou palcos me emocionaram como esta peça. É como se Nelson Baskerville e todo o elenco da Cia. Mungunzá tivesse conseguido bradar um grito tão íntimo, tão intenso e tão forte à mim.

Me emociono pela sensibilidade - do autor, do argumento e do elenco. 

Todas as vezes que assisti a sensação foi a mesma: uma vontade imensa de que todo mundo pudesse assistir. Talvez essa vontade exista por uma outra coisa velada e íntima de achar que se todos assistissem uma parte de mim estaria explicada de uma maneira mais 'fácil' (pelo menos para mim). 

E espero que ninguém nunca seja hipócrita de achar que essa emoção toda se dá apenas pelo fato da peça falar de homossexualidade. Bem longe disso. A peça fala de gente. Com verdade, intensidade e principalmente muito tato. 

Sou eternamente grato por ter tido a oportunidade de conhecer este trabalho. E que bom que a Gabriela não conseguiu acumular o seu afeto. E não conseguindo, que bom que outras pessoas puderam fazer por ela e transbordar esse afeto fora do normal.

"Eu não sei acumular afeto, ele vaza. Vazou na casa, nas ruas, nos bares.A maneira que eu soube demonstrar o meu carinho dentro da minha confusão, eu demonstrei. Trepar é meu carinho. É como um beijo, um abraço, é como ceder um cobertor. Por que eu vou fazer pela metade? Ceder um cobertor ao mendigo e não a companhia para dormir? Eu não entendo.Eu sou um brinde que vai com o cobertor. Eu sou um brinde que veio junto com a vida para todo mundo. Aqui todos nós somos brindes."

Referências: Luis Antônio - Gabriela
Foto: Marcos Anthero
Agradecimento: Fernando Souza

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